Paroxismo


Vendo cenas violentas
De guerra, na televisão,
Fiquei estarrecida com a imagem

De uma criança, que despida
E queimada fugia da explosão
De mísseis e granadas...

Fora tão forte a imagem,
Que eu não mais escutava
O que o repórter falava.
Nem precisava!

E ungi suas feridas
Com o óleo da compaixão
E percebendo-a febril,
Colhi nas pétalas do meu carinho
O orvalho da madrugada,
Para depositá-lo
Nos seus lábios ressequidos...

Sobre o seu corpinho
Queimado e nu
Somente a brisa suave
Da noite para refrescá-lo
E aliviar-lhe a dor!

Adormecemos...
Quando despertei,
Não mais vi a criança
Ao meu lado

Os primeiros raios de sol
Atravessando a vidraça
Da janela vieram aquecer-me
Dando a sensação
Do calor da sua presença...

Durante muito tempo,
Fiquei a refletir
Sobre o drama da petiz.
E de tantas crianças
Que em algum país distante
São vítimas da guerra.

Que em outros, como o nosso,
São vítimas da violência urbana,
Do crime sem nome,
Da fome que lhes consome,
Do medo da fome,
Por falta de amor!